O que significa a palavra trombofilia?
A palavra trombofilia é um substantivo masculino que deriva duas outras palavras:TROMBO + FILIA
“Trombo” significa: Coágulo de sangue que se forma num vaso (artéria, veia) e que permanece no local onde se formou, provocando a trombose.Quais são os fatores predisponentes para desenvolver trombose?
- Imobilização prolongada (como em vôos prolongados, imobilização prolongada após cirurgias);
- Cirurgias com grande lesão tecidual, hospitalização prolongada;
- Idade mais avançada;
- Colesterol elevado, obesidade, consumo de álcool e tabagismo;
- Uso de pílulas anticoncepcionais e terapia hormonal contendo estrogênio;
- Gravidez, por causa da elevada taxa de estrogênio, hormônio potencialmente trombogênico.

Quais os riscos das trombofilias para a saúde do indivíduo em geral?
A trombofilia aumenta as chances de formação de trombose no sangue e, por isso, os sintomas podem surgir no caso de complicações em alguma parte do corpo, como:- Trombose venosa profunda: inchaço de alguma parte do copo, principalmente as pernas, que ficam inflamadas, vermelhas e quentes. (Entenda o que é trombose e como identificar)
- Embolia pulmonar: intensa falta de ar e dificuldade para respirar;
- Acidente Vascular Cerebral (AVC): Que acontece devido à trombose arterial ou venosa, com perda súbita de movimentos, da fala ou da visão, por exemplo;
- Na gravidez: perda gestacional precoce e tardia, parto prematuro, descolamento de placenta, crescimento intra-uterino restrito, pré-eclâmpsia, trombose, infartos e insuficiência placentária.
Trombofilias na gravidez
A gravidez por si só é um estado de alto risco para trombose.
Para que a gravidez seja bem sucedida é necessário que não ocorra hemorragia durante a implantação do embrião. Para que isso ocorra são necessárias alterações na coagulação uterina local e sistêmica, com produção de proteínas pró-coagulantes e diminuição de enzimas fibrinolíticas. Para manter o equilíbrio hemostático (homeostase = equilíbrio) durante a gravidez é necessário uma mudança na fisiologia do corpo feminino.
Ocorre naturalmente um aumento do potencial de coagulação. Este estado de hipercoagulabilidade aumenta a chance de a mulher grávida desenvolver trombose e embolia pulmonar.
Por isto, mulheres que estão grávidas ou no pós-parto tem um risco quatro a cinco vezes maior de tromboembolismo em comparação com mulheres não grávidas.
Em mulheres com trombofilias, este risco é ainda maior. Isto porque as mulheres com trombofilias têm maior risco de ter trombose e embolia. Durante a gravidez, já existe um estado de hipercoagulação que aumenta ainda mais o potencial trombogênico dessas doenças.
Dados sugerem que pelo menos 50% dos casos de tromboembolismo venoso em mulheres grávidas estão associados com trombofilias, isto é, ocorreram em mulheres que têm trombofilias.
Tipos de trombofilias
As trombofilias podem ser hereditárias (também chamadas de genéticas, porque estão nos genes), quando o indivíduo já nasce com ela, ou adquiridas, quando aparecem durante a vida, não tendo sido herdadas desde o nascimento.
Trombofilias Adquiridas
As trombofilias adquiridas também são chamadas de “Síndrome dos Anticorpos Antifosfolípides”, ou SAAF. A síndrome dos anticorpos anti-fosfolipídes ou síndrome dos anticorpos anti-fosfolipídeos ou ainda síndrome de Hughes, é uma doença crônica em que o organismo passa a produzir anticorpos que afetam a coagulação sanguínea, levando à formação de coágulos que acabam obstruindo a passagem de sangue nas veias e artérias. Não se conhece o mecanismo que leva a produção dos anticorpos que interferem no sistema da coagulação. Existem os chamados “fatores desencadeantes” que podem agir como gatilhos para a eclosão da SAAF, em indivíduos geneticamente predispostos. Os principais fatores são fumo, obesidade, vida sedentária, níveis elevados de colesterol e triglicerídeos, uso de hormônios (principalmente estrógenos) e certas drogas (como a clorpromazina). Os Anticorpos Antifosfolípedes (AA) são uma família de autoanticorpos dirigidos contra complexos de fosfolípides combinados com proteínas plasmáticas. A presença desses autoanticorpos causa predisposição à trombose.

Trombofilias Hereditárias
As trombofilias hereditárias são herdadas geneticamente. As principais trombofilias hereditárias são:- Mutação no Fator V de Leiden (FVL)
- Mutação G20210 no gene da protrombina (GP)
- Deficiência de proteína S (PS)
- Deficiência de proteína C (PC)
- Deficiência de Antitrombina III (AT)
- Mutações no gene da Metiltetrahidrofolatoredutase (MTHFR)
- Outras *
Trombofilias Hereditárias de alto e baixo risco para tromboembolismo venoso
De modo didático, de acordo com o risco de TEV e para facilitar a tomada de decisões clínicas, as trombofilias hereditárias são classificadas em trombofilias de alto e baixo risco para TEV:Trombofilias de alto risco:
- Deficiência AT
- Homozigose da mutação FVL
- Homozigose da mutação GP
- Combinação de Heterozigoze de GP e FVL
Trombofilias de baixo risco:
- Heterozigose da mutação FVL
- Heterozigose da mutação GP
- Deficiência de Proteína C
- Deficiência de Proteína S
Trombofilias e Riscos Gestacionais


Uso de Anticoagulantes na Gravidez

- Osteopenia (diminuição da calcificação dos ossos e tendência a fraturas)
- Sangramento placentário
- Diminuição das plaquetas

Quais mulheres devem fazer os exames de trombofilia?
Apesar de TEV ser uma das principais causa de mortalidade relacionada à gravidez, a incidência de TEV é baixa: 1 em 1000. Por causa da baixa incidência de TEV na gravidez, o screening universal não é indicado. Apesar de ser claro de que mulheres com história prévia de TEV devem ser testadas para trombofilias hereditárias e adquiridas, para mulheres que tiveram resultados adversos na gravidez (pré-eclampsia, CIUR, descolamento de placenta, insuficiência placentária, etc.) não está claro se devem ou não serem solicitados exames para trombofilias. Isto porque ainda não foi comprovado se realizar a pesquisa de trombofilias melhora os resultados caso se tenha um diagnóstico e se realize profilaxia com anticoagulantes.1- TROMBOFILIAS ADQUIRIDAS
As trombofilias adquiridas (SAAF) têm forte relação com complicações obstétricas. Por isto é recomendado que seja feito o rastreamento para SAAF nos seguintes casos:- Passado de trombose
- Um ou mais episódios de trombose venosa, arterial ou de pequenos vasos
- Passado de mau resultado obstétrico
- Três ou mais abortos euplóides consecutivos <10 semanas
- Uma ou mais mortes de fetos morfologicamente normais
- Parto prematuro < 34 semanas por pre-eclampsia ou insuficiência placentária
2- TROMBOFILIAS HEREDITÁRIAS
As sociedades de Ginecologia e Obstetrícia Internacionais recomendam que o rastreamento para trombofilias HEREDITÁRIAS deve ser realizado nas seguintes mulheres não grávidas que planejam engravidar:- Mulheres que já tiveram TEV
- Mulher que tem um parente de primeiro grau com uma trombofilia de alto risco
Ou seja, não devemos sair solicitando “exames de trombofilia” em mulheres que não tenham indicação.
A Sociedade Americana de Ginecologia e Obstetrícia recomenda que não devem ser testadas para trombofilias hereditárias:
- Mulheres que tiveram um ou mais abortos perda fetal menor que 12 semanas
- Mulheres que tiveram descolamento de placenta
- Mulheres que tiveram restrição do crescimento fetal
- Mulheres que tiveram ou pré-eclâmpsia
- Mulheres que tiveram insucesso em tratamento(s) com fertilização in vitro.

“E se eu quiser fazer os exames mesmo sem necessidade?”
Não é recomendado que se faça uso de medicação anticoagulante para prevenção de pre-eclâmpsia, CIUR, descolamento e perda fetal na presença de trombofilias hereditárias. Isto porque, como já dito, as evidências científicas não suportam uma associação entre as trombofilias hereditárias e estes resultados adversos. Entretanto, se uma mulher, ao fazer exames, tiver o diagnóstico de que é portadora de uma trombofilia hereditária e por causa disto fizer o uso de heparina, deverá estar ciente de que NÃO HÁ EVIDÊNCIA CIENTÍFICA DE QUE O USO DESTA MEDICAÇÃO MELHORE O RESULTADO DE SUA GRAVIDEZ.Quando existe indicação, quais exames devem ser realizados?
- Trombofilias Hereditárias:
- Mutação no Fator V de Leiden
- Deficiência de proteína S
- Deficiência de proteína C
- Mutação G20210A no Gene da Protrombina
- Deficiência de Antitrombina III
- Trombofilias Adquiridas -SAF
- Anti-cardiolipina IgG e IgM
- Anticoagulante lúpico
- Anti-beta-2 glicoproteína-I IgG e IgM
Quando fazer os exames de trombofilias?
Antes da gestação ou, para pacientes que estiveram grávidas, recomendamos esperar até pelo menos três meses após o parto e após interromper a amamentação para excluir os efeitos relacionados à gravidez. Se ocorreu um evento tromboembólico os exames devem ser realizados depois do fim da terapia anticoagulante exceto para os exames de FVL e GP, que podem ser realizados em qualquer momento.Por que não devemos fazer todos os testes de trombofilias DURANTE a gravidez?
Porque durante a gravidez ocorrem diversas modificações pró coagulantes:- Aumento dos níveis de fibrinogêneo
- Aumento do Fator de von Willebrand
- Aumento do Fator 2, aumento do Fator 7, aumento do Fator 8
- Aumento da resistência da Proteína C
Leituras Recomendadas
- Louis-Jacques AF, Maggio L, Romero ST. Prenatal Screening for Thrombophilias: Indications and Controversies, an Update. Clin Lab Med. 2016 Jun;36(2):421-34. doi: 10.1016/j.cll.2016.01.016. Epub 2016 Mar 12. PMID: 27235922.